quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Reminiscências radiofônicas

Lembrar que a antiga Rádio Cidade (que era Esmeralda, virou Cidade e depois voltou a ser Esmeralda) ficava no Centro Liberal me fez recordar que, por vezes, eu assistia ao encerramento da programação e testemunhava o literal “apagar das luzes” da janela do meu quarto. Após o sinal sair do ar, o operador de plantão demorava apenas alguns minutos para desligar a última lâmpada e ir-se embora: o trabalho estava concluído. Passava pouco da meia-noite.

A Rádio Fátima finalizava as transmissões mais cedo, logo após as 23 horas. Sua despedida era inconfundível: ao som de “Boa noite, meu anjo querido", na voz da cantora Giane, a emissora da Moreira Paz desejava uma boa noite aos ouvintes. Depois disso, apenas o ruído da estática disputando o éter com o sinal fugidio de outra rádio, sabe-se lá de onde. Tempos em que o AM era soberano – o FM ainda não chegara a Vacaria, parecia coisa de “cidade grande” – e internet e telefone celular e seus aplicativos soariam como coisas de ficção científica. Reminiscências radiofônicas do já distante século XX...

Appio

Morreu em Porto Alegre na última segunda-feira, dia 31, aos 74 anos, o ex-radialista Idivar Francisco Appio. Ele foi vítima de um AVC. Na década de 1980, pelas rádios Fátima e Esmeralda, narrou boa parte da escalada do Glória até a Primeira Divisão, em 1989. Deixou as transmissões esportivas a partir de 1991, ao assumir como deputado na Assembleia Legislativa do Estado. 

“O rádio é velho, mas a rádio é nova!”

Na década de 1980, atuando pela Fátima, Appio era o grande nome do broadcasting local. Foi por isso que a Esmeralda – que naquele 1988 voltava ao nome original, após alguns anos como Cidade – não poupou para divulgar a sua contratação: veiculou um comercial na RBS TV Caxias. Um luxo, considerando-se que ainda hoje são raros os investimentos vacarienses na mídia televisiva.

Em um cenário quase todo escuro, a não ser por dois spots, que iluminavam um o próprio narrador, sentado, e o outro, uma mesa sobre a qual repousava um antigo rádio capelinha, Appio anunciava ao público seu novo prefixo. E concluía, pousando a mão sobre o aparelho e sorrindo para a câmera: “O rádio é velho, mas a rádio é nova!” Um golaço da Esmeralda, que à época tinha estúdio nos altos do modernoso edifício Centro Liberal, na praça Daltro Filho.